“O ícone é uma janela para o céu. Um trampolim que nos lança no oceano do mistério divino. Enquanto vivermos neste mundo, a nossa comunhão com Deus é mediada pela matéria, quer seja o livro Sagrado, a música e também a imagem sacra” (Padre Almir Flávio)“é uma imagem sacra, que aplica teologia nas cores, formas, símbolos e perspectiva. A utilização destas ferramentas na iconografia tradicional tem a intenção de nos libertar da emotividade e nos levar até um encontro com o sagrado.Os ícones não retratam o mundo real, mas nos abrem a janela do invisível, levando-nos à transcendência. A arte sacra manifesta, para os que a observam, os sentidos do eterno e do imutável, nutrindo, com a beleza, a alma humana. É, portanto, um espelho da alma. A arte da iconografia é uma forma de catequese, um método de ensino, para todo tempo e lugar, que fala da beleza infinita de Deus, e sobre a alegria interior ... Iconografia é uma forma de pintura feita em oração.” Extraído de: http://www.sergioprata.com.br/port/icones.html (em 17.02.2021)“o que se pinta, o que se canta o que se plasma nas formas visíveis não pode ser diferente do conteúdo invisível. O ícone é a suprema realidade do Mys-terium” (II Concílio de Niceia, citado em Claudio Pastro, “O Deus da Beleza”, pág 18).
A iconografia da Trindade na Capela da Casa de Retiros de Rondinha
Na Tradição judaico-cristã ‘explica-se’ a dinâmica do DEUS-AMOR pelo mistério da Trindade: Deus é UM e se revela em três pessoas para que nós vivamos em COMUNHÃO com Ele./ COMUM UNIÃO / COM O UM / a fonte da vida. Deus é Pai e se dá e se revela em seu Filho e seu Filho vive para o Pai. Esta REVELAÇÃO (Pai-Filho-Pai), expressa-se na pessoa do Espírito, o Espírito de Amor. Sabemos que estamos em Deus quando vivemos a relação filial de filho no Filho (Jesus) pelo Espírito.
Para uma melhor compreensão, a Trindade se nos apresenta em Gn 18, 1-15: o Senhor se manifesta a Abraão, em sua tenda, debaixo do carvalho de Mambré, sob a forma de Três Anjos ou Três Peregrinos. Deus visita Abraão trazendo-lhe a notícia de sua paternidade e a de sua esposa Sara, na velhice, pais de um grande povo. Abraão os acolhe, lhes serve uma refeição e tem fé nessa promessa. Sara duvida. Assim, Abraão é o nosso pai na fé, o patriarca do povo judeu-cristão. Portanto, cada fiel incorpora Abraão e Sara e terá atitude de fé ou dúvida.
Essa é a IMAGEM bíblica da Trindade, muito ilustrada pelos artistas na Igreja do Primeiro Milênio do Cristianismo e mais na Igreja Oriental, como por exemplo no conhecido ícone da Trindade do monge Andrei Rublev. Nos Evangelhos e em particular no Evangelho de João, Jesus nos fala declaradamente do Mistério da Trindade e indica aos seus seguidores a vida plena neste Mistério.
O ícone da Trindade de Cláudio Pastro em Rondinha
- o ícone em sua composição repete a imagem da Tradição baseada em Gn 18,1-15.
- os hospedeiros não estão presentes na cena nem a mesa da refeição, pois, Abraão e Sara “estão em cada um de nós” e a Eucaristia (o pequeno altar do Tabernáculo), a refeição que nos une, está logo à frente.
- os Anjos hóspedes estão sentados na “tenda de Abraão”, isto é, a Capela em si ou “a morada” que cada um de nós é.
- o Anjo da direita corresponde a Deus-Pai. No olhar infinito dos seus desígnios Ele é completamente voltado para o Filho (arquétipo de toda a criação) e, assim, a cada um de nós, filho no seu Filho.
- Ao alto, a Jerusalém celeste, com muitas moradas é a Casa do Pai, nossa única morada, a eternidade para onde peregrinamos.
- o Anjo do centro corresponde ao Filho. É o único que olha para nós: “quem me vê, vê o Pai”. É o Anjo da revelação, a razão do Pai. Sua mão direita está voltada para o Pai e seus dois dedos levantados indica-nos ser Ele a segunda pessoa da Trindade. Sua mão esquerda, para baixo, quer nos dizer que Ele está aqui, presente em nosso meio, na refeição eucarística. Às suas costas está a Árvore da Vida, a Cruz, com a qual ele nos abriu o Paraíso.
- o Anjo da esquerda corresponde ao Espírito. Está completamente voltado para o Filho e o Pai e sua mão esquerda, aberta, apresenta-nos e nos convida a entrar nessa relação amorosa, lá onde nossa vida ganha sentido. De seus pés saem “rios de água viva” que brotam desse Espírito de Amor e de Sabedoria.
O ícone é a Palavra de Deus, não em be-a-bá mas, em formas e cores, como nós, “à imagem e semelhança”, mistério invisível no visível da imagem. O ícone é o prolongamento do Mistério da Encarnação em nossa humanidade.
A grande Capela – Capela Santo André
Logo à entrada da Grande Capela,
O Cordeiro Pascal – “eis o Cordeiro de Deus” (Jo 1,36)
É o centro de nossa fé e vida na celebração eucarística pascal.
Assim, logo à entrada aponta-nos a razão única de nossa vida cristã: celebrar a Páscoa de Cristo em nós. Precede toda e qualquer reflexão, gesto e postura que dá sentido a este lugar, a Capela.
Capela Santo André - A grande Capela – Jesus e os discípulos, André e Pedro
"Na vocação de André e Pedro a nossa vocação de batizados, isto é, convidados a participar da vida de Deus: vivermos como Deus nos concebeu, a cada um, “à sua imagem e semelhança”. Jesus abre-nos a portas do Paraíso e seguindo-o tornamo-nos homem pleno, filho de Deus.
Na leitura estética da obra, percebemos o caminho do iconógrafo, o Espírito Santo agindo em formas e cores:
- André e Pedro acreditaram no anúncio de João Batista, e seguem o Cordeiro de Deus, presente em Jesus.
- Jesus tem a mesma estatura dos discípulos e lhes mostra o mistério da Eucaristia como sua morada: “vinde e vede”.
- sua morada se nos revela em sua Palavra, em sua Carne e Sangue, em seu Memorial celebrado na Divina Liturgia.
- André, o mais jovem, tem uma mão ao peito, no coração, tocado por este encontro e a outra mão para baixo, disponível a segui-Lo.
- Pedro vem logo a seguir com uma mão ao peito reconhecendo-se indigno (pecador) e a outra já nos indica o Messias, o Salvador.
Todos têm o olhar de admiração e perplexidade diante deste Encontro e Mistério: a vocação é um dom, chamado e encontro e quem o faz é fiel.
O fundo esverdeado mostra-nos a esperança a que fomos chamados: participarmos da Glória de Deus, o cêntuplo, já, aqui e agora." (C. Pastro A.D. 2008)
Um dos mais inspirados e belos ícones marianos de toda a história do cristianismo nos apresenta Maria, Mãe de Deus, Theotókos, que literalmente significa “portadora de Deus” – ícone conhecido como Hodigítria – a que mostra o Caminho; segurando o Menino Jesus em um dos braços e, com a outra mão, apontando para Ele como quem indica O Caminho da Salvação – que é o próprio Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Conhecida também como mãe da Ternura, com uma mão segura o seu Filho, e com a outra aponta para Ele, enquanto o seu olhar nos alcança.